terça-feira, 7 de julho de 2009

Franca de Zambonini escreve sobre a missão de Madre Teresa

Vestida num sarí branco com as bordas marcadas com as três linhas azuis, um pequeno crucifixo no ombro esquerdo, vestindo também uma malha cinza para evitar o frio, sandálias finas em seus pés desnudos, e carregando uma bolsa de tecido com alças de madeira; foi assim que Madre Teresa chegou a Oslo para receber o Premio Nobel e em Nova York para inaugurar um abrigo para portadores de AIDS.

E foi assim que ela chegou ao Pódio na sede das Nações Unidas e aos escombros de Beirute.

Em milhares de fotografias ela sempre aparenta a mesma, em favelas de grandes cidades, como em residências oficiais e residências de pessoas poderosas e influentes. Há uma foto de Madre Teresa, quando ela tinha 15 anos, tirada em 1925, quando ela era conhecida por Agnes Bojaxhiu e entre os familiares pelo apelido carinhoso de “Ganxha”, que em Albanês significa “Botão de Flor”. Nesta foto, ela esta em pé, ao lado de sua irmã Age, e as duas muito parecidas; Olhos brilhantes, testas altas e narizes proeminentes.

Elas estão usando uma roupa tradicional Albanesa: coletes bordados e calças tradicionais Turcas. Cada uma com os braços em volta dos ombros da outra, com suas cabeças próximas uma da outra. Meio século depois – em 1975 – a revista Time destacou Madre Teresa em sua capa. Em um artigo intitulado “Santos Vivos”, a Madre é retratada com um rosto profundamente marcado, no qual seus pequenos olhos de algum modo submersos e seus lábios fortemente comprimidos. Seus cabelos cobertos por seu Sarí, que serve também como um véu. Esta se tornou a imagem mais familiar de Madre Teresa de Calcutá.

Entre as fotos de 1925 e de 1975, décadas de privações e trabalhos exaustivos transformaram a imagem de Madre Teresa em um símbolo da caridade universal. Ela se tornou uma especialista em prover alivio emergencial quando e onde desastres acontecessem. Ela descreve seu trabalho como “Amor em ação” ou “algo de belo para Deus”. Sua missão é nas ruas da cidade, e começou quando ela levantou, pela primeira vez, um homem a beira da morte da calçada de Calcutá, assim violando um tabu ancestral da Índia, o dos “Intocáveis”, e assim agitando a consciência fatalista das pessoas. Desde então, ela vem carregando seu apostolado a todos os continentes. Madre Teresa tinha uma verdadeira obsessão, pelo conhecimento dos pobres. Quando viajava pelo mundo, tudo que via se relacionava aos pobres ou à pobreza. Por exemplo: Se num vôo um companheiro de viagem lhe mostrasse um lago abaixo, ela colocaria suas mãos de encontro ao peito, e exclamaria “Ah se nós pudéssemos transportar este lago para a Etiópia, onde as pessoas estão morrendo de sede...”. Em uma era de ateísmo materialista, ela aponta Cristo como nosso objetivo e guia.

Um jornalista americano uma vez viu ela lavando um homem coberto de chagas, e exclamou: “Eu não faria isto nem por 1 milhão de dólares”, e prontamente ela respondeu “Nem eu”. E se alguém a criticasse por ela passar a maior parte do seu tempo curando as feridas do mundo ao invés de tentar mudá-lo, ela responderia: “Você que mude o mundo, e enquanto isto eu fico aqui curando suas feridas”. Madre Teresa pode relacionar incidentes tanto edificantes quanto horríveis. “Eu uma vez recolhi um homem das ruas, sendo consumido enquanto vivo, pelos vermes. Enquanto eu o banhava ele me perguntou: “Porque fazes isto?”. Eu o respondi:” Porque eu o amo ““.

Madre Teresa não permite que seu instituto de caridade seja listado como tal. “Não somos uma organização beneficente. Tentamos viver uma vida contemplativa. Contemplamos Jesus na Eucaristia, e Jesus em meio aos pobres que todos abandonaram”.

A Madre Teresa algumas vezes tomava decisões que as vezes eram consideradas reacionárias ou até um pouco escandalosas. Nós vivemos com medo de doenças e nos recusamos a aceitar a morte, mas ela anda em meio aos que sofrem das mais horrendas doenças, tais como a Lepra ou AIDS. Nós nos cercamos de utensílios muitas vezes caros e inúteis, e em casa temos os mais modernos equipamentos domésticos. Madre Tereza, no entanto, uma vez ordenou que as irmãs de sua ordem, que se vissem livres da geladeira, o aspirador de pó,e também os carpetes com os quais alguns católicos haviam decorado um convento em São Francisco. Em nossa sociedade de desperdício, a Madre Teresa vê a montanha de lixo e sucata que produzimos como uma blasfêmia contra os que são privados de tudo. Ela diz: “A pobreza não é criação de Deus, mas sim de nós mesmos, por nosso egoísmo”. Madre Teresa nos ensina o poder das orações. “O mais importante é rezar, rezar, e rezar”.

Quando se enfrenta dificuldades, ela aconselha suas irmãs a rezarem uma ave-maria toda manhã. Umas tantas ave-marias podem resolver tudo. Há um provérbio indiano diz: “Teçam juntos uma teia de aranha e podem capturar um tigre.”

Nós nos cercamos com maquinários e tecnologia, mas ela é a favor dos trabalhos manuais, em que muitos vêem um retorno a Idade Media. A cada manhã na sede em Calcutá, as irmãs enchem o tanque de água, localizado no 3° piso do prédio, carregando manualmente baldes de água escada acima, ao invés de instalar um sistema hidráulico. Em meio aos ruídos da vida moderna, ela escolhe um silêncio monástico. “As arvores, as flores e o gramado crescem em silêncio. As estrelas, o sol e a lua se movem em silêncio. O silêncio nos da uma nova perspectiva das coisas”. Em uma era que favorece o gigante, ela ama pequenas coisas. “O que importa não é o quanto fazemos, mas quanto amor colocamos no que fazemos. As pequenas coisas se faz com muito amor”. Sem muita pratica ou técnica de oratória, Madre Teresa consegue capturar a atenção dos jovens num estádio, especialistas num congresso internacional, professores num auditório de Universidade, políticos em seus parlamentos. Ela não prepara quaisquer anotações, nem segue a uma lógica pré-definida. Ela descreve seus métodos como se segue: “É um martírio para eu falar em publico. Eu fecho meus olhos e minha boca, e faço um sinal da cruz em meus lábios”. O Papa João Paulo II confiou a ela um papel muito especial na evangelização e relações publicas da Igreja quando lhe disse “Você vai onde eu não posso ir. Vá e fale em meu nome”.

A mera presença de Madre Teresa é uma mensagem. Ela encarna a palavra. Como o poeta americano Walt Whitman uma vez disse: “O que você é fala tão alto, que não posso ouvir o que você diz”. Ela carrega o peso de sua popularidade como um sacrifício, mas também colhe algum lucro espiritual disto: “Com cada foto que tiram de mim, uma alma é salva”. Ela possui a maior das inteligências: aquela do coração. Quando ela toma parte de cerimônias oficiais para receber prêmios, diplomas, Diplomas honorários ou doações, o contraste entre ela e os outros participantes é sempre ofuscante. Os oficias de alto-escalão estão lá, em seus ternos bem acabados, falando com muita certeza e determinação e usando de retóricas oficiais. E ali esta Madre Teresa, curvada por sua artrite , cabisbaixa e falando somente o que é essencial. Ela não tem poder algum ou autoridade nestas cerimônias, no entanto, alcança suas metas e não deixa que ninguém a controle ou domine. Ela sabe como ser intrépida e inflexível; seu não e definitivo, e seu sim total.

O corpo desta mulher de mais de 80 anos foi emagrecido como resultado de suas privações voluntárias; seu coração falho prescisa de um marca-passo, ainda assim sua energia dinâmica exaure a todos que a rodeiam. Ela nunca come ou bebe nada fora do seu convento, mesmo quando esta em longas viagens; e ela nunca aceita nada que lhe é oferecido. Isto tudo, ela diz, é por respeito aos pobres. Sua alimentação consiste de Arroz e vegetais, ela bebe somente água ou chá, não dorme mais do que 3 hrs, tirando tempo de descanso para responder a cartas que recebe, trabalhar, enfim, fazer o que é necessário. Sua expressão facial aparenta severidade, mas quando seus traços se transformam em um sorriso, a luz divina se espalha por seu rosto.

Ela é mística, contemplativa, mas ao mesmo tempo, uma administradora muito cuidadosa e zelosa apostola de caridade.

Agora, seu prestigio e reputação internacional abre todas as portas, mas ela começou sua obra com 5 rupees (moeda corrente indiana). De uma cigana a serviço de Deus, ela agora é uma empresária de caridade.

Milhões de dólares passam por sua mão, mas ela não permite que ninguém arrecade dinheiro em seu nome. Ela não mendiga, apenas espera, mas insiste que o dinheiro doado não venha de fundos supérfluos. A doação tem que “doer”, para que a doação venha primeiro, edificar o doador espiritualmente.

Madre Teresa herdou de sua família Albanesa, uma certa astúcia administrativa; e da Índia, seu país de adoção, absorveu um fatalismo saudável. “Fazemos tudo para o Senhor. Cabe a ele pensar em nós”. Esta é a mesma resposta que ela dá às pessoas que perguntam o que será das Missionárias da Caridade, depois que ela morrer. “Se é um trabalho de Deus, ele se encarregará de cuidar. Se não o for, então que desapareça!”.

Eu conheci as Missionárias da Caridade em Calcutá, Manila, Roma, Melbourne, Londres, Nova York e Moscow. Elas não são tão numerosas quanto pode parecer.Somente 3000 no mundo inteiro. Mas são bem visíveis, pois tal qual a Madre Teresa, elas também não deixam a grama crescer sob seus pés. O dia todo, elas vagueiam por ai, sempre em pares, em busca de pessoas pobres, recitando o Rosário enquanto andam. Madre Teresa as instruiu: “Não falemos muito. Quando adentrarmos as casas dos pobres, pegamos uma vassoura e começamos a limpar”. Ela as treina em alegria evangélica: “Não as quero executando milagres de maneira dura ou severa. Prefiro que cometam erros de maneira cândida”.

Em todas as casas das missionárias da caridade mundos afora, as palavras “Têm sede” estão sempre colocadas acima do crucifixo na capela, em linguagem local. Aquelas palavras e o crucifixo são o seu manifesto.

Há um passagem nos evangelhos que de acordo com Lucas diz: “Quando preparas um banquete, convide pedintes, os aleijados e os cegos. Você deve ficar feliz por eles não poderem agradecer, pois seu pagamento virá na ressurreição dos justos. (Lc 14:13-14)


Fonte: Trechos extraídos do livro: Teresa of Calcutta - A pencil in God's Hand, da autora Franca Zambonini - tradução do inglês para o português por Caio Eugênio Rondon Lahr - cancaonova.com.

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